top of page

eu, um adulto índigo, na educação

Lendo o livro Crianças Índigo, da Ingrid, bem rápido me reconheci como um adulto índigo. Eu nasci em 1964, em Porto Alegre, e desde pequenina manifestei um espírito independente, o que surpreendia principalmente o meu pai. Com dezesseis anos, no ginásio em Salzburg, na Áustria, me sentia muito mal. Como eu tinha perdido o meu pai quando eu tinha quase onze anos, eu estava, desde então, ligada com as questões essenciais da vida:


1. Para onde o ser humano vai depois da morte? De onde ele vem antes de nascer? Porque estamos aqui? Quem somos nós? – Isto a gente não aprendia na escola. Eu a considerava um fracasso, pois as questões mais importantes ela não abordava. Em vez disso quase todo mundo decorava conteúdos, muitas vezes sem entendê-los ou questioná-los, apenas para ganhar notas boas e escapar do perigo de rodar.


2. Os professores vinham para a escola porque era o seu ganha-pão. Estavam eles também longe de questionar o que estavam fazendo, seguiam apenas as ordens do ministério da educação.


3. Acima de tudo tínhamos que ficar sentados quase todo o tempo recebendo informações. Sentia me como um balde, sem a possibilidade de digerir tudo que era despejado nele. Sentia frio e ficava com dor de cabeça. De tarde tinha que me recuperar dormindo várias horas. O resto do tempo eu passava fazendo lições de casa.
E o motivador principal para esta prática escolar era o medo...

Foi nesta época, por volta de 1980, que surgiu o movimento Punk na Inglaterra e em seguida também na Suíça. Filhos de boas famílias, com bastante poder aquisitivo, se vestiam como se tivessem saído do esgoto... Começaram a demolir as lojas chiques na Bahnhofstrasse em Zurique. Toda Europa ficou chocada e se perguntava: “qual é a motivação destes jovens?”.


Estando na mesma faixa etária eu os entendia. Dava vontade de fazer a mesma coisa! Se não fiz é porque nunca fui um tipo violento, sempre senti que a saída não é por aí. Porém, vontade não faltava para destruir este mundo superficial, este brilho falso que esconde o vazio, o mundo do consumismo exagerado que apenas quer distrair a atenção da falta geral de sentido.


Foi nesta época que veio um senhor com cabelinhos brancos, também da Suíça, para falar em Salzburg sobre: “Como a Pedagogia Waldorf encara a atual crise na educação?”. Fui na palestra, peguei fogo e estou em chamas até hoje.
“Porque os nossos professores não estão ensinando assim, de pé no chão, baseando o seu ensino numa compreensão real do ser humano?” – eu me perguntei. Então decidi finalizar os meus estudos na escola convencional para depois estudar Pedagogia Waldorf. Quis me tornar um professor melhor do que aqueles que eu tive. Coloquei-me em busca de uma educação mais viva, permeada de sentido.


Como é a Pedagogia Waldorf?

Em primeiro lugar ela entende o ser humano pelo que ele é de fato: um espírito encarnado que vem para a terra para evoluir, conforme a sua própria escolha. Ele chega aqui como uma semente e precisa de condições favoráveis para poder desabrochar. Como nós adultos podemos proporcionar boas condições para um desabrochar saudável?


Como primeiro passo precisamos entender que o ser humano precisa de tempo: vinte um anos para pousar no planeta terra. Três fases específicas ele perpassa nestes vinte um anos, cada uma com sete anos de duração, os setênios. A Pedagogia Waldorf, que se baseia na Ciência Espiritual Antroposófica (1), conseguiu desvendar cada vez mais as necessidades específicas do ser humano nestes três setênios, em sua prática pedagógica ao longo de quase cem anos desde a fundação da primeira Escola Waldorf, na Alemanha em 1919 (2).


Falando de maneira resumida (3): No primeiro setênio (0 – 7 anos) a criança desenvolve principalmente o seu querer e precisa, em função disso, de condições adequadas neste sentido; no segundo setênio (7 – 14 anos) ela desenvolve principalmente o seu sentir e precisa então de alimento especifico para a sua alma; no terceiro setênio (14 – 21 anos) ela entra na fase madura para pensar, para desenvolver julgamentos próprios e isto também precisa ser promovido de maneira adequada. Em outras palavras: na Escola Waldorf o ser humano tem a permissão de chegar, passo a passo, à sua maturidade. Usando uma imagem: O fruto não é colhido da árvore quando ainda está verde. Pode permanecer no galho todo o tempo necessário e receber bastante sol, até ficar doce e saboroso. Com maturidade então o jovem vai para o mundo, pronto para fazer escolhas próprias e contribuir com o seu jeito especial e único para a evolução da sociedade humana. Ela, a sociedade, só ganha com isto.

Em contrapartida, na escola convencional, a criança não tem tempo, nem para ser criança, nem para brincar. É tratada já como um pequeno adulto no jardim de infância, na base do medo dos pais: “Se o meu filho não aprende a escrever com quatro anos como vai passar no vestibular com dezesseis?”.

Na Escola Waldorf o fundamento sólido da Ciência Espiritual Antroposófica traz segurança: tudo na vida tem o seu momento. É importante ir passo a passo, com calma e confiança, que assim o ser humano se desenvolve bem. Não posso aqui entrar em muitos detalhes da prática pedagógica Waldorf (para aprofundar veja bibliografia abaixo). Porém, quero dirigir-me às três questões da minha juventude, do que eu senti falta no ginásio na Áustria:

1. O sentido da vida. Na Escola Waldorf, como se entende que o ser humano é um espírito encarnado que vem para evoluir no planeta terra, o sentido da vida permeia todas as aulas. Ele não é ensinado especificamente, mas ele sempre está presente pela consciência dos professores. A Ciência Espiritual Antroposófica tem metodologia própria para investigar de onde o ser humano vem para nascer aqui e para onde ele vai depois de morrer. Nascimento e morte são portais para outros âmbitos da realidade. A vida em si continua, apenas se transforma.


2. A presença do professor na escola é diferente quando baseada em tal fundamento. Ele não exerce sua profissão apenas como ganha pão, mas idealmente, sente uma missão a cumprir a cada dia. Sua ligação com os alunos é de coração: estamos todos evoluindo aqui, ajudando uns aos outros. Esta consciência permeia o professor com entusiasmo e dá força e inspiração para os desafios do dia a dia pedagógico.


3. Na Escola Waldorf os alunos também se movimentam todos os dias. Porque? Porque a criança não é considerada um mero recipiente para conteúdos, mas precisa vivenciar, elaborar e digerir cada novidade. Esta prática se baseia no fato de que o nosso pensar atual (4) tem como instrumento o cérebro na cabeça, o nosso querer tem como instrumento os membros e o nosso sentir respira ritmicamente nos órgãos do tronco, principalmente no pulmão e no coração. Estes três âmbitos da composição do corpo humano precisam ser exercitados a cada dia. Por isso o currículo Waldorf alterna conscientemente as matérias com foco mental com as práticas corporais, tendo como centro das atenções as atividades artísticas, que fazem a ligação entre os opostos: cabeça e membros. Um ser humano que passou em sua educação por um currículo assim composto, vai ter em sua vida adulta estas três capacidades a sua disposição: o seu pensar, o seu sentir e o seu querer.
Lembrando os ensinamentos do filme: O Segredo, fica claro como é importante ter estes três à disposição, pois criamos a nossa realidade nestes três passos: pensar – sentir – agir!

Em contrapartida, o ser humano que sai da escola convencional teve apenas o seu mental estimulado e sofre de sentir e querer atrofiados. As consequências para a sociedade são dramáticas. A qualidade de vida em geral baixou nas últimas décadas, apesar da perfeição cada vez maior da tecnologia. A humanidade está submersa em uma epidemia de depressão. A violência aumenta a cada dia.(5) Tudo isto pode ser evitado!


O ideal da Pedagogia Waldorf e os seus desafios

Como qualquer ideia genial que entra na corrente da história da humanidade, a Pedagogia Waldorf, assim como a sua base, a Ciência Espiritual Antroposófica, depende de cada ser humano nela engajado. Somos todos humanos, isto quer dizer compostos de luz e sombra.


Qual é o maior desafio para o professor Waldorf? Tornar-se vivo e manter-se vivo no dia a dia! Ser um constante vir a ser, um ser humano em processo, em desenvolvimento constante, em busca da sua essência.


Sei disto de experiência própria. Tornei-me professora Waldorf e atuei durante oito anos numa Escola Waldorf na Alemanha. Comecei cedo e na realidade muito mal preparada para esta tarefa, mesmo estando cheia de boas intenções...
As crianças índigo que eu tive como alunos não aceitaram uma prática pedagógica conforme “receita de bolo”. Mesmo a receita sendo Waldorf, não bastava para o ensino real. Isto ficou claro já nas primeiras semanas da minha atuação e hoje sinto muita gratidão pelo jeito radical destes alunos. Eles queriam, desde o início, uma professora verdadeira, transparente e viva.


Firmei o meu foco nesta meta e caminhando na estrada da minha profissão fui descobrindo como realizar este ideal. Posso também dizer assim: eu já tinha sido uma criança índigo, como descrevi no início, porém, como poderia me manter índigo na vida adulta? Como poderia escapar do perigo de esfriar, de entrar numa rotina oca que se baseia em práticas do passado que eu aprendi na minha formação Waldorf? Como poderia deixar o meu trabalho vir a ser a cada dia?


Na Europa, nos anos noventa, eu vivenciei a crise na Pedagogia Waldorf e percebi a essência desta crise neste ponto: o desafio de se tornar vivo a cada dia novamente se apresenta para cada professor, que tem a escolha entre atuar “conforme manda o figurino” ou de ir até as raízes, vivenciar regularmente a base desta prática e criar os seus atos diários na base de vivências próprias, fundamentadas em pesquisa própria.


Como vir a ser um índigo a cada dia?

Eu trabalho com o corpo. Ensino Euritmia.(6) Na Escola Waldorf ela está no currículo do jardim de infância até o fim da escola. Porquê? Porque o espírito que vem para a terra precisa da alma e do corpo para se manifestar no mundo terrestre. Passo a passo o espírito se torna amigo do seu corpo e da sua alma, ajuda a formá-los e aprende a se expressar através deles.


Nos três setênios o ser humano passa por várias fases nas quais esta relação espírito/alma/corpo se torna mais ou menos agradável. A vida se desenvolve em altos e baixos, como ondas. A prática corporal da euritmia ajuda nesta relação. O ser humano se torna amigo do seu corpo, aprende a viver bem nele e aprende a usá-lo como instrumento de expressão para a sua alma. Quando adulto ele tem então o seu pensar, sentir e querer à disposição e se sente confortável no uso do seu instrumento. Uma base sólida e flexível para uma boa autoestima se criou desta maneira.

Quando um ser humano não passou pela Escola Waldorf, como eu, uma relação saudável com corpo e alma não se criou durante a infância/juventude. Ao contrario. Cedo já eu sentia que havia sido deformada pela minha formação escolar...
É possível transformar esta deformação? É possível deixar a vida desabrochar onde a morte foi imbuída? Muitas vezes me senti, em relação ao meu corpo e à minha alma, como um agricultor em face a um campo duro... Para que as sementes soterradas e apertadas neste solo pudessem germinar e desabrochar, a terra teria que ser primeiramente afofada.


Será que isto não vale para todos nós que passamos pela deformação da escola convencional? E quando uma pessoa assim decide atuar numa Escola Waldorf, ela não precisa, antes de tudo, passar por um processo de cura? Ela não precisa se transformar? E se ela não fizer isto, como ela vai conseguir proporcionar às crianças aquilo que ela não recebeu em sua infância/juventude e nem consegue proporcionar para ela mesma agora? O perigo de atuar de maneira convencional mesmo dentro de uma Escola Waldorf não se torna bem grande? Rudolf Steiner, o fundador da Pedagogia Waldorf, diz na primeira conferência no livro Arte da Educação I: “O ser humano atua no mundo não apenas através daquilo que ele faz, mas principalmente através daquilo que ele é”.

Concordo plenamente quando é dito que a Pedagogia Waldorf é a pedagogia indicada para as crianças índigo. Elas vêm ao nosso encontro com sensibilidade espiritual à flor da pele com o impulso de nos tirar do nosso sonho materialista. Então o professor Waldorf não precisa se tornar índigo também, quer dizer começar a vivenciar que a realidade é uma composição viva entre matéria e espírito? E com isso adotar um estilo de vida mais saudável, que respira e proporciona a ele também o exercício diário do seu pensar, sentir e querer? Como fazer isto?

Conforme a minha experiência, a prática regular da euritmia é uma boa ideia. Ela consegue transformar o ser humano deformado (= apenas mental, com sentir e querer atrofiados) em um ser humano completo novamente; em um ser humano que respira entre a polaridade cabeça e membros com ricas sensações e sentimento.


Considero isto um milagre! O ser humano adulto que tende para o enrijecimento pode desfazer suas tensões e se colocar de volta no fluxo saudável da vida. Vivencio isto a cada dia no Espaço Vivo onde eu trabalho atualmente, principalmente com adultos. Única condição para a realização deste milagre é praticar regularmente, como malhar em academia. A diferença em relação à academia é que no caso da euritmia a gente malha o nosso pensar, sentir e querer, movimentando corpo, alma e espírito.


Que tal? Ficou curioso? Então a melhor coisa é experimentar. O efeito? A qualidade de vida melhora, e muito! O ser humano se torna sensível novamente para a percepção da realidade plena: ela é um casamento constante entre matéria e espírito.
As crianças índigo já têm esta percepção. Elas vieram para nos tirar do nosso sonho materialista. A euritmia foi criada para ajudar neste despertar.

 

 

(1) Ciência avançada com metodologia própria para investigar o mundo suprassensorial e a sua relação com o mundo sensorial. Foi fundada pelo filósofo e cientista austríaco Rudolf Steiner (1861 – 1925).


(2) O fato que hoje a Escola Waldorf tem apenas 12 anos de duração (dos 7 aos 18 anos) em vez de 14 anos (dois setênios completos) é consequência do compromisso com as leis existentes em cada pais. Porém, existem instituições específicas que oferecem atividades para jovens entre dezoito e vinte um anos como, por exemplo, o Jugendseminar em Stuttgart, Alemanha.


(3) Para aprofundar o assunto veja bibliografia abaixo.


(4) O nosso pensar atual, o pensar lógico, que tem o cérebro como seu instrumento, é um pensar linear, limitado dentro de uma visão dualista. Estes limites podem ser superados e assim ele serve como ponto de partida para um pensar mais avançado, o pensar supralógico, que é um pensar em ondas que terá no futuro como seu instrumento o coração. Veja também: www.heartthink.com


(5) Heinz Buddemeier: Mídia e Violência, EDITORA ANTROPOSÓFICA.


(6) Arte de movimento que harmoniza corpo, alma e espírito e reconecta o ser humano com as forças do universo. Surgiu em 1912 na Alemanha, como fruto da Ciência Espiritual Antroposófica. Desde então tem se espalhado pelo mundo, sendo vivenciada como uma fonte de vitalidade e bem estar. 


Bibliografia:
- Rudolf Steiner: A Educação da Criança Segundo a Ciência Espiritual.
- Rudolf Steiner: A Arte da Educação I, II, III.
- Rudolf Lanz: A Pedagogia Waldorf – caminho para um ensino mais humano.


 

Este texto é parte do livro: Adultos Índigo, de Ingrid Cañete

 

 

Ele procura responder a questão que inúmeros adultos se fizeram após terem lido sobre as Crianças Índigo: “Descobri que sou um Adulto Índigo e agora?!”.

O livro traz as características desses adultos sob a ótica do processo evolutivo humano. Fala da “síndrome do estrangeiro”, ou seja, da experiência de sentir-se um “estranho” aqui neste planeta, um ser “desencaixado”. Fala sobre a missão dos Adultos Índigo, ressaltando seu papel fundamental: o de receber bem as próximas gerações. Traz uma abordagem sobre a liderança e o papel dos Adultos Índigo neste momento global e apresenta depoimentos e casos reais sobre eles. Um destes casos: um Adulto Índigo na educação, fala sobre a Pedagogia Waldorf.

margrethe3.jpg
bottom of page