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entrevista com Margrethe

 

Jornal Bem Estar, N° 66, Fevereiro 2009

 

 

"Eu vejo que enquanto o ser humano vive na ilusão do materialismo, achando que depois da morte tudo termina, ele não tem como ser feliz."

 

Este mês o BEM ESTAR entrevista uma amiga muito especial, com uma grande formação humanista e um belo trabalho voltado à evolução do ser humano.

Margrethe. Conte um pouco a tua história, onde nasceu, como foi a infância?


Eu nasci em Porto Alegre, filha de músicos, violinistas, meu pai vindo da Dinamarca, minha mãe nascida aqui. Quando eu tinha dois anos e meio eles se mudaram para Salzburg na Áustria, a cidade de Mozart, e lá eu fui educada, junto com meu irmão mais velho. Foi uma infância banhada em artes, principalmente em música.
Quando eu estava com dez anos, meu pai ficou doente e morreu. Foi aí que a Ciência Espiritual Antroposófica entrou em minha vida. A Antroposofia, fundada pelo grande filósofo e cientista austríaco Rudolf Steiner, tem metodologia própria para investigar a vida antes do nascimento e depois da morte. Este conhecimento objetivo ajudou a minha mãe a sobreviver à perda do marido. Eu sentia naturalmente que o meu pai continuava vivo em outro plano, que ele tinha apenas deixado o corpo físico. Mais tarde, quando estudei o livro Teosofia, um dos básicos do estudo antroposófico, eu vi que o que eu tinha sentido é, de fato, assim.

Como aconteceu teu contato com a pedagogia Waldorf?


Com 17 anos, no ginásio na Áustria, eu era muito infeliz como aluna. Sentia que algo estava basicamente errado com o tipo de educação que eu estava vivenciando. Eu me sentia como um balde que era enchido de conteúdos que tinham que ser decorados para obter boas notas, sem chance de investigar, descobrir, vivenciar por interesse próprio os fenômenos da vida. No mais eu já estava, pela vivência da perda do meu pai, ligada com as perguntas mais importantes do ser humano: "Quem somos nós?" "De onde viemos, para onde vamos?" "Por que estamos aqui?" A escola não abordava estas perguntas de maneira satisfatória e eu a considerava, por isso - um fracasso! Como posso fazer a minha escolha para a vida sem antes responder estas perguntas? Foi aí que um velhinho veio da Suíça para dar uma palestra em Salzburg sobre o tema: "Como a Pedagogia Waldorf encara a atual crise na educação?" Isto foi em 1981(!) Assisti a palestra, peguei fogo e estou em chamas até hoje!

Então este contato foi decisivo para a definição da tua carreira.


Sim. Decidi ser professora, queria ser uma professora melhor do que aqueles que eu tinha vivenciado como aluna. Fui para Stuttgart, Alemanha, fazer o ano básico da Pedagogia Waldorf e tive que escolher uma matéria para ensinar, porque simplesmente ensinar sem matéria não é possível. Como eu gosto de todas as artes, escolhi a Euritmia como profissão. Esta prática corporal maravilhosa que promove o bem estar do ser humano abraça todas as artes: fala, música, movimento, ritmo, cores, escultura, arquitetura etc. Fiquei feliz da vida! Era isso aí! Eu queria tudo ao mesmo tempo!
Fui para Hamburgo, Alemanha, e estudei lá os quatro anos até me formar em 1989. Logo consegui uma vaga como professora de euritmia na Escola Waldorf em Bremen, perto de Hamburgo, onde trabalhei principalmente com adolescentes - o que adorei. Depois de oito anos na escola fui para Nova Iorque fazer uma pós-graduação em euritmia. Foi um ano muito rico, onde comecei a desenvolver o meu estilo próprio no ensino da euritmia, na base da prática do Pensar do Coração.

E, por fim, acabaste voltando ao Brasil.


Segui o chamado do meu coração e voltei para a terra onde nasci. Cheguei em fins de 1999 e na Páscoa de 2001 já foi possível inaugurar o Espaço Vivo, onde trabalho até hoje. Quando cheguei aqui me perguntei: o que as pessoas precisam? Como posso servir com a euritmia, a arte que aprendi, para melhorar a qualidade de vida das pessoas? Desta pergunta nasceu, no curso dos últimos anos, o Curso de Transformação "Quem somos nós?".

Qual tua visão de saúde, de felicidade e de bem estar?


A minha visão de bem estar também tem a ver com a morte. Eu vejo que enquanto o ser humano vive na ilusão do materialismo, achando que depois da morte tudo termina, ele não tem como ser feliz. Esta crença é a base de uma infelicidade profunda que leva à depressão. No momento em que o ser humano percebe que a vida é uma totalidade composta por matéria e espírito tudo se ilumina – a verdadeira compreensão da vida nasce e, como consequência um profundo bem estar. Isto a verdadeira arte nos ensina. E o meu maior prazer é despertar o artista que está, como semente, em cada um de nós!

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